Um contraponto ao imediatismo, à alienação, às explicações simplórias, ao pensamento mágico, às gambiarras, puxadinhos e tampões. A necessária alternativa ao modo eficientista, reducionista e determinista de entender e explicar o mundo.
P: Esperar que uma única área do conhecimento humano dê conta de tanta coisa não é pedir demais?
R: Não.
P: Essa área existe?
R: Sim, há milênios.
P: Tem nome?
R: Vários, mas vamos ficar com Pensamento Sistêmico.
P: Já ouvi falar. Se a matéria é tão poderosa e abrangente, por que ela não é ensinada em escolas?
R: Talvez porque ela seja poderosa e abrangente.
P: Como assim?
A lógica que orienta há séculos o desenho de nossas escolas e organizações é exclusivamente reducionista1. Nunca tivemos um complemento de verdade à trilha da especialização sem fim. Aconselhamos, por exemplo, o desenvolvimento de carreiras em T. Mas não somos nada claros na orientação sobre como desenhar e adquirir aquele travessão. Tanto que já jogamos outras letras no balaio pra disfarçar o mau jeito.
Pensar em Sistemas significa se intrometer em todas as especializações, fazendo vista grossa para as fronteiras e bagunçando a zona de conforto dos sábios e seus discípulos. Assim fica fácil entender a dificuldade em sem colocar essa cadeira em nossas universidades. Funções assim, tão abelhudas e arrogantes, nunca se deram bem em nenhum tipo de organização.
No entanto, no momento em que esse corpo de conhecimento ganhou nome2 e fama, em meados do século passado, a situação era diferente. As conferências3 que debatiam o tema eram um show de diversidade: psicólogos, psiquiatras, engenheiros, matemáticos, biólogos, médicos, antropólogos, sociólogos, filósofos. Tudo junto e misturado. Foi essa variedade que permitiu concluir que havia sim a possibilidade de uma disciplina que conversaria e facilitaria a comunicação entre todas as outras.
Entretanto, e sempre há um entretanto, o jeitão reducionista de ser parece exercer uma estranha atração sobre a gente. O mapa abaixo4 tenta mostrar a “evolução das ciências da complexidade”:
Não deixa de ser um imenso favor o fato do Pensamento Sistêmico e alguns de seus principais proponentes não aparecem no gráfico acima. Roubaram a paternidade (Cibernética, Teoria da Informação, Teoria dos Sistemas) mas deixaram a nossa integridade5.
A Abordagem Sistêmica
Para início de conversa:
Abordagem6: Maneira de encarar as coisas ou lidar com elas. Modo pelo qual se enfrenta um problema.
Sistêmica: A abordagem baseada no princípio de que tudo é ou um sistema ou um componente do sistema.
-Dicionário de Filosofia do Mario Bunge (Perspectiva, 2012)
Se TUDO é ou um sistema ou parte de um, é de se esperar que TUDO compartilhe alguns traços e modos, atributos e comportamentos. Se isso é possível, é de se esperar que exista uma linguagem comum. Mais que isso, uma gramática comum, uma gramática de sistemas. Afinal, a promessa é de integração e facilitação das conversas entre as mais diversas disciplinas. Mais que isso: o que se promete é o desenvolvimento de uma maneira diferente de ver e entender o mundo.
Pensar em sistemas é ver e entender o mundo da forma como ele realmente funciona.
-Laura e Derek Cabrera7
Não é pouca coisa.
Eu sei que existem “várias” escolas com propostas diferentes, um tanto mais “holísticas”. Mas eu também sei que você sabe que minha generalização se justifica se considerarmos todos os níveis de ensino e o tamanho das exceções.
O primeiro nome, na realidade, foi Cibernética.
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Estou brincando mas o papo é sério: há uma “rivalidade” entre as tais Ciências da Complexidade e o tal Pensamento Sistêmico. Quem acompanha trilhas sobre esses assuntos vira e mexe tropeça em debates que lembram bobeiras como “scrum x kanban”. O nível não é tão baixo. Os termos são rebuscados. Mas o desperdício de atenção é o mesmo.
O perigo da Ciência ou Teoria da Complexidade é que ela é tão nova mas tão nova que carece até de uma definição básica sobre o que significa “complexidade”. Se você duvida, veja quantas tentativas fez Melanie Mitchell em Complexity: A Guided Tour (Oxford, 2009). O maior perigo desse papo é o tanto que ele ainda se confunde com quimeras e frescuras pós-modernas.
Tendo a usar mais Abordagem do que Pensamento Sistêmico. Para dar um senso mais prático e driblar as interpretações fracassadas e/ou esotéricas da matéria. E mande catar coquinho quem vier com o papo de approach ou mindset.
Systems Thinking Made Simple. Odyssean Press, 2015.