Lógica, Solução de Problemas, Método Científico, Pensamento Criativo, Pensamento Crítico, Pensamento Matemático, Pensamento Complexo. São opções que apareceriam como Habilidades de Propósito Geral, ao lado ou logo abaixo de Saber Ler, Escrever, Fazer Contas e Aprender. Todas compartilham uma promessa: nos ajudar a pensar melhor. E esse melhor inclui o pensar diferente. Porque precisamos de outras perspectivas, de novos entendimentos.
Nós não vamos solucionar os nossos problemas com o mesmo pensamento que usamos ao criá-los.
ou
A mentalidade que nos trouxe até aqui não será suficiente para nos livrar dessa bagunça toda1.
Qual mindset2 nos trouxe até aqui e nos legou essa bagunça toda? Centenas de milhares de livros já foram escritos sobre isso e é claro que este espaço é finito e não tem a menor pretensão de radiografar raízes, dedurar paternidades e debater o lado bom da coisa. Sejamos práticos. Há três traços no nosso jeito default de pensar que respondem por boa parte da bagunça3 instalada:
Eficientismo4: a ideia fixa de que um trabalho, qualquer trabalho, deve ser feito da forma mais econômica possível: usando pouquíssimos recursos e considerando que tudo é urgente, tudo é pra ontem; O dobro do trabalho na metade do tempo5! Você sabe que se trata de uma patologia quando mais da metade das partes envolvidas num problema, qualquer problema, não tem a menor ideia do motivo daquela situação ter merecido a hashtag #problema. Não entendem por que estão ali. Mas executam, como belos e malditos algoritmos, tudo o que é mandado.
Reducionismo: a ideia de que a solução de um problema, qualquer problema, passa obrigatoriamente pelo fatiamento dele em mínimos pedacinhos. Das diversas consequências, dois exemplos bem vistosos: temos mais de 80 mil disciplinas em nossas escolas e zilhares de profissões e funções em nossas organizações. São silos que mal se conhecem, geralmente não se falam e ainda por cima se veem concorrentes.
Determinismo: a noção de que um problema, qualquer problema, tem obrigatoriamente uma linha clara e lógica de causa e efeito. Essa linha de raciocínio, não raro, apresenta um meliante - um cpf - no marco zero.
Na ciência, quando o comportamento humano entra na equação, as coisas tornam-se não lineares. É por isso que Física é fácil e Sociologia é difícil.
-Neil deGrasse Tyson6
[Como quase ninguém lê as notas de rodapé, apesar de todo o zelo e relevância, tenho promovido comentários aleatórios aqui para cima - devidamente delimitados por colchetes. Afinal, eles precisam ter alguma utilidade. É o seguinte: se acrescentarmos outros dois traços bem comuns do nosso mindset default, Maniqueísmo e Arrogância, abrindo e fechando a sequência acima, chegamos num belo acrônimo para a mentalidade corrente: MERDA7. Uma sigla simples, objetiva e concreta - como ensinam os bons manuais de criação de marcas.]
Para pensar melhor precisamos pensar diferente; Pensar diferente significa usar claros contrapontos aos traços listados acima. Há uma disciplina, área de conhecimento ou ciência que empacote isso? Há!
[continua]
Enviesado além da conta, faz tempo que prefiro a segunda versão. Ciente de que Einstein nunca a pronunciou assim, mas certo de que era exatamente isso que ele queria dizer. Ou não?
Não custa relembrar: bagunça é um sistema de problemas, um entrelaçamento de crises e mudanças. O pai dessa definição é Russell L. Ackoff. De novo!
Uma breve pesquisa no Google revelou que o termo é mais comum no meio jurídico. O entendimento que uso aqui é o mesmo que Byung-Chul Han apresenta em Sociedade do Cansaço (Vozes, 2017). Talvez haja uma palavra que expresse melhor essa patologia coletiva. Não é alienação. Alienação é efeito. Assim como o imediatismo.
Por incrível que pareça, essa é a promessa feita no título de um livro que apresenta um método de trabalho que teria sido desenhado para o século 21, o Scrum.
Citado em Sensemaking: o poder da análise humana na era dos algoritmos, de Christian Madsbjerg (Nobel, 2018).
Uso o Unsplash para encontrar boas imagens para meus posts. Hoje, <sabe-se lá a razão>, minha primeira busca foi por merda. Funcionou de primeira: Foto de stefan moertl na Unsplash.