O Pensamento Sistêmico ainda não é um Sistema
O que falta? E por que isso pode ser crucial para o seu desenvolvimento?
Palavras de Gary Smith, presidente da ISSS (International Society for System Sciences):
O Pensamento Sistêmico ainda não é um sistema.
Smith falava sobre o estado atual do Pensamento Sistêmico1. É uma pena que ele não tenha sido provocado a esticar e explicar a afirmação. Não pretendo falar por ele. Mas vou aproveitar a deixa.
Sistemicidade
Meu corretor ortográfico ainda não conhece o adjetivo sistemicidade. Pelo jeito, a IA do Google também não:
Sistemicidade é a qualidade de algo que é sistemático, ou seja, que segue um sistema, é organizado e metódico. Em outras palavras, indica a presença de relações e interações entre os elementos de um sistema, resultando em um comportamento coerente e integrado.
Melhor apelar para uma fonte mais confiável:
SISTEMICIDADE - A propriedade de ser um sistema ou pertencer a um deles. Exemplos: átomos e células são sistemas; as palavras numa língua e os conceitos numa teoria estão inter-relacionados. Em contrapartida, as estrelas de uma constelação, os componentes de um aterro de lixo e os aforismos de Wittgenstein não são sistêmicos.
Falta sistemicidade ao Pensamento Sistêmico. Não que a gente precise das amarras e fronteiras formais que caracterizam as disciplinas tradicionais. Mas alguma coesão se torna a cada dia mais urgente. Porque o Pensamento Sistêmico é cada vez mais necessário. E ele não vai se espalhar como deveria enquanto seus coloridos e variados retalhos continuarem totalmente soltos por aí. Como podemos costurá-los?
Combinando Metodologias …
… e tudo o que elas trazem em suas bagagens. São relativamente comuns as coletâneas de modelos, ferramentas e métodos3. Não é sobre isso que estamos falando. Jogar numa playlist tudo o que você curte é fácil. Produzir uma sequência onde as partes se completam e se invocam mutuamente é outra coisa.
Interfaces são tanto a fonte primária de valor em um sistema quanto a fonte primária de complexidade.
-Donald Reinertsen4
Estamos — as pessoas de negócios, TI e derivados — acostumados com as guerras de métodos. Raramente elas produziram algo de valor5. No inclusivo e variado campo do Pensamento Sistêmico também encontramos guerrinhas, picuinhas e incompatibilidades mil. Isso faz com que os esforços para dar alguma sistemicidade à matéria ainda sejam muito poucos. Raros e louváveis6.
É pouco provável que o Pensamento Sistêmico ganhe um Processo Unificado. Algo do tipo daria coesão sim, mas ao custo de uma total falta de autonomia7. Por outro lado, ao deixar praticamente todo trabalho de costura por conta dos usuários finais, reduzimos o alcance e as chances de aplicação do Pensamento Sistêmico.
Há jeitos e jeitos de trazer alguma sistemicidade para o Pensamento Sistêmico. No próximo post tentarei mostrar que a costura não precisa ser difícil.
Enquadrado³
Sumi daqui porque estava brigando para gerar 100’ de prosa falada. A pequena série sintetiza o que você vai encontrar no Curso de Pensamento Sistêmico8.
Cotação?
Vivemos rodeados de ‘idades’: interoperabilidade, funcionalidade, usabilidade, portabilidade, acessibilidade, confiabilidade, manutenabilidade, testabilidade etc. Por que será que quase nunca conversamos sobre a SISTEMICIDADE?
Em evento promovido pela Si Network, Systems Thinking - The Past, Present & Future of a Movement, no último 18/fev/25.
Dicionário de Filosofia (Perspectiva, 2019).
Há todo tipo de coletânea. Systems Mapping: How to build and use causal models of systems, de Pete Barbrook-Johnson e Alexandra S Penn (Palgrave Macmillan, 2022). Os autores confessam que a seleção é baseada em critérios “pessoais e enviesados”.
Não houve, por parte dos autores, nenhum esforço para combinar as propostas, ou seja, para sugerir mínimas interfaces entre os modelos apresentados.
Seleção diferente, um tanto mais sofisticada e variada, foi elaborada por Bob Williams e Richard Hummelbrunner em Systems Concepts in Action: A Practitioner's Toolkit (Stanford Business Books, 2011). Entretanto, como no caso anterior, não há nenhuma ligação — formal ou informal — entre as propostas.
Michael “Mike” Jackson vai um pouco além em Critical Systems Thinking: A Practitioner's Guide (Wiley, 2024). Ele apresenta um framework, o EPIC:
Mas, como nos casos anteriores, evita qualquer discussão sobre a combinação dos “modelos, métodos e metodologias” que devem ser “usados com flexibilidade”.
Managing The Design Factory: A Product Developer's Toolkit (Free Press, 1997).
Uma honrosa exceção foi a criação da UML (Unified Modeling Language) a partir da guerra dos métodos “orientados a objetos”. Pena que pouco aproveitamos daquela ideia.
Luc Hoebeke criou um framework a partir do VSM, SSM e dos trabalhos de Geoffrey Vickers e Elliot Jaques. Ele apresenta a sua sugestão em Making Work Systems Better: A Practitioner's Reflections (Internet Edition - pdf, 2000).
Menos ambiciosa mas igualmente elogiável é a ideia de combinação do VSM com a Dinâmica de Sistemas apresentada por Markus Schwaninger e José Pérez Rios em System Dynamics and cybernetics: a synergetic pair (Systems Dynamics Review Vol. 24, N. 2 - 2008).
Autonomia-Coesão é um dos três Balanços Essenciais.
Essential Balances: Stop Looking and Start Seeing What Makes Organizations Work, Ivo Velitchkov (KVISTGAARD, 2020).
Estou trabalhando na versão pt-br deste livro. Oportunamente, você verá alguns trechos por aqui.
Há vagas. Há bolsas! Começa na próxima semana.