Ferramentas para Pensar em Sistemas
Se você quer ensinar às pessoas uma nova forma de pensar, não se preocupe em tentar educá-las. Em vez disso, dê-lhes uma ferramenta cuja utilização levará a novos modos de pensar.
Encerrei com Bucky Fuller, recomeço com ele. Porque suas pistas mostram o tipo de sabedoria que deveríamos carregar para tudo quanto é canto. Na mesma caixa onde levamos as nossas boas ferramentas para pensar em sistemas.
Repito o ferramenta pra pensar em sistemas na esperança de diminuir certo desconforto. Porque sistema, por si só, é uma ferramenta. É um dispositivo que nós humanos tivemos que inventar para colocar certa ordem no mundo. A natureza não está nem aí para as nossas divisões e classificações. Mas, o que seria de nós sem elas?
Gostamos tanto da brincadeira — de dividir, rotular e dominar — que não percebemos o momento em que isso começou a nos causar sérios problemas. Exageramos nas quebras e especializações. No entanto, isso só virou estorvo de verdade1 quando compramos a ideia de que esse jeito reducionista de pensar é o jeito certo de pensar.
Nossa era de ansiedade é, em grande parte, o resultado de tentarmos fazer o trabalho de hoje com as ferramentas de ontem — com os conceitos de ontem.
Cotação2 repetida merece o truco: ok, caro escrevinhador, cadê as ferramentas de hoje? Se depender da turma legal da Si Network, todas viraram canvases!
Devo admitir, tenho mesmo uma certa alergia aos canvases. Ou, para ser mais exato, alergia à essa moda-mania de transformar tudo em canvas. Confesso: já fiz isso também, há uns dez anos. E deixei de acreditar que essa simplificação leve alguém a “novas formas de pensar”. Veja, por exemplo, o que fizeram com o bom e velho Diagrama Estoque-Fluxo.
Ainda mais preocupante que esse sarrafo baixinho3 é a falta de liga ou lógica na seleção e ordenação das ferramentas. Aponto para este evento específico da SI Network, mas o mal está bem distribuído.
Vejamos outro exemplo, o Systems Thinking Body of Knowledge (SysBoK)4. Ele foi elaborado pela SCiO (Systems and Complexity in Organisation), um grupo legal que também cometeu o Systems Practitioner Personal Portfolio. Tem de tudo ali: metodologias, métodos, ferramentas, conceitos e brincadeiras pseudocientíficas (Constelações, NLP). Enfim, um verdadeiro balaio de gato que se limitou a separar a bagunça em três seções: Systems Knowledge & Skills, Systems Thinking Knowledge & Skills e a maravilhosa Intervention Knowledge & Skills. Honestamente? Essa zorra toda não é apenas inútil; Ela é perigosa. Mas eu não pretendo desperdiçar nosso tempo assim.
Uma Caixa Sistemática
Lá em dezembro eu sugeri uma estrutura básica para a nossa caixa de ferramentas. Ela tem quatro divisórias principais: Descoberta, Exploração, Desenvolvimento e Entrega. Um pouco antes, também em dezembro, tentei mostrar o que é que a gente tem na cabeça quando pensa em sistemas. É hora de combinar ferramentas com isso que a gente pensa e, aproveitando o embalo, colocar novos compartimentos em nossa caixa sistemática.
[Continua]
Perdidos no Boteco
Pô, o cara nos abandonou? Cadê o VSM? Acabou a série?
Acho que, meio de improviso, ele tocou a Valsa do Ackoff e deu um passo pra cima.
Como assim?
Você não lembra da Valsa do Ackoff, a receitinha para um bom início de investigação sistêmica?
Um passo para cima, dois para baixo…
Exatamente. Ele acabou de dar um passo para cima.
Você está me deixando confusa. Clareia, por favor. Tô cansada.
Acho que ele vai posicionar o VSM num toolkit sistêmico.
E precisa dar essa volta toda?
Veremos.
Acho que sim. Até para que possamos comparar metodologias, métodos, modelos e ferramentas.
E para dar risadas daqueles balaios de gato.
Gostei. Mas ele poderia ter avisado, né? Porque ainda falta muito o que falar sobre VSM, não falta?
Faltam os canais! Acho que é a terceira vez que reclamo a falta dos canais!
Mano, ele ainda não mostrou nem os princípios nem os axiomas.
Então… parou por quê?
Pra gente ter um refresco… e apreciar o todo…
Só se for com uma gelada. Plácido! Cadê o Plácido?
Tá fritando torresmo. Sistema 1 sobrecarregado da p$#r@…
Cara, você sabe qual é o verdadeiro nome do Plácido?
Sistema Um?
Cotação
Desordem e confusão são falhas do design, não atributos da informação.
Que jeito maravilhoso de ilustrar algo ruim. Leia em voz alta imitando sotaque de varginhense ou piracicabano: estorvo de verdade!
Outro esclarecimento não solicitado: Uso cotação, até como subtítulo em posts, no lugar de citação. Por causa do quote, em inglês? Não! Cotação, em bom português informal, também significa apreço, consideração. (Houaiss).
Em outras rodas (e outros tempos?) esta reclamação — sarrafo baixinho — seria facilmente rotulada como elitista ou algo assim. Minha resposta favorita: respeite a inteligência do seu aluno/leitor/ouvinte/cliente/parceiro/amigo/etc.