Por que você desconfia?
Nós, mineiros, temos a fama de sermos desconfiados. Não sei de onde ela vem. Só sei que é injusta. Todos os brasileiros somos. Exageradamente desconfiados.
A afirmação é simples: a maioria dos meus compatriotas é confiável. Você concorda? Desde que a pesquisa começou a ser feita no Brasil, em 1993, nós nunca conseguimos 10% de respostas positivas. Por um bom tempo nós perdíamos até para a Colômbia, que vivia em quase guerra civil. Estamos nessa zona de rebaixamento desde muito antes desta era odienta. Nosso pior momento é em 1998, com míseros 2,8% de concidadãos confiáveis.
Quem não confia o suficiente não será confiável.
Ainda que interesse a historiadores, sociólogos e antropólogos, não faz muito sentido tentar rastrear culpados. Pelos números, todos somos. Ops: nove em cada dez de nós são/somos. Compensa, isso sim, gastar um tempinho pensando nas consequências. Fazemos ideia de como a nossa desconfiança ampla, geral e irrestrita custa caro? Da próxima vez que alguém citar o famigerado Custo Brasil, pense nisto: quanta burocracia, quanta complicação nós embutimos em nossas organizações - públicas e privadas - porque não confiamos em ninguém. Ops! Em quase ninguém.
Assim como compensa muito, uma vez entendido o preço da desconfiança, desenhar organizações, estruturas e processos menos paranoicos.
A melhor maneira de descobrir se você pode confiar em uma pessoa é confiando.
Ágil, Enxuto e Mentiroso
Se não há confiança mútua, não é ágil. Se privilegia processos, ferramentas, documentação e planos em detrimento da cooperação1, não é ágil nem enxuto2. Revogam-se as disposições em contrário!
Na Ponta do Lápis
Foi em uma palestra para um dos grandes bancos tupiniquins. Como prêmio pela síntese do espírito sistêmico, enxuto e ágil, mereci o seguinte fidbeque de um diretor da área de TI:
Talvez seja esse mesmo o caminho. A certeza que tenho é que não dá para continuar torrando R$ 9,00 de cada R$ 10,00 gastos em projetos de software com documentação, contratos e burocracia.
90%, de novo.
Por que você desconfia?
Por quê?
Uso cooperação no sentido proposto por Richard Sennett em Juntos: Os rituais, os prazeres e a política da cooperação (Record, 2021): “uma troca em que as partes se beneficiam”. (pág. 15). Mesmo significado que Mihaly Csikszentmihalyi dá para a palavra integração.
Não estou falando das marcas Agile e Lean. Me contento com o sentido original dos termos (segundo o Houaiss):
á.gil adj.2g. 1. que se move com facilidade; ligeiro 2. desembaraçado; vivo; rápido 3. eficiente no trabalho; diligente
en.xu.to adj. 3. fig. elegante, sem excessos ou redundâncias.
Apelando para o sentido original do Sistema Toyota de Produção, o que é enxuto é descomplicado. 13 letras? É muito. O que é enxuto é simples. Melhor assim.