Aqui está a melhor definição que você encontrará para Problema1:
Problema: uma lacuna no conhecimento que vale a pena, segundo se julga, ser preenchida.
Se é, de facto, um problema, então tem gente envolvida. E é um problema porque nenhuma das partes envolvidas conhece uma solução. Problema é conhecimento que falta.
Reconhecida a lacuna, há quatro atitudes possíveis2:
Absolvição: fingir que o problema não existe;
Resolução: aplicar conhecimento prévio - experiência - para se livrar do problema;
Solução: aplicar o método científico3 para desenvolver o conhecimento necessário para se livrar do problema; e
Dissolução: redesenhar ou reposicionar o sistema ou parte dele de forma a eliminar o problema e as chances de recorrência.
O problema não é o problema. O problema é a sua atitude em relação ao problema.
Se vale a pena preencher aquela lacuna - mesmo que ainda não saibamos se será resolvendo, solvendo ou dissolvendo o problema - então é chegada a hora de conversar sobre o eixo x de nossa matriz4.
Por onde começar?
Podemos surrupiar algumas ideias do rico universo do Design Thinking. Por exemplo:
O losango captura bem os dois grandes movimentos que executamos ao buscar a solução para um problema. Entretanto, alguém achou que era economia besta o uso de apenas um diamante. Nasceu o Double Diamond…
… e com ele o perigoso entendimento de que seria possível uma etapa de definição - aquele momento em que um escopo é congelado no freezer de um advogado. Isso deve funcionar em alguns trabalhos. Mas não naqueles que envolvem incertezas, complexidade e gente. Pensando nisso, alguém sacou um belíssimo squiggle (rabisco)5:
Tem que ser muito f$%# para vender um projeto sugerindo a aplicação do método acima, né? Na etapa de pesquisa, a zorra total. Nos momentos finais, ninguém se mexe, ninguém toca em nada!…
Não é de hoje que brinco com as propostas acima. Apesar das prováveis boas intenções, elas mostram bem o buraco em que a gente se meteu por não aprender desde o ensino fundamental uma matéria básica: Solução de Problemas.
Temos muitos craques nas mais diversas áreas que se complicam e nos enrolam porque não aprenderam a lidar com problemas. O que é um dos maiores mistérios da humanidade. Pense comigo: não há uma profissão que não tenha sido criada para lidar com determinado tipo de problema. Aí o cara passa duas décadas enfurnado em escolas desenvolvendo os conhecimentos e habilidades requeridos para exercer bem aquele ofício. E sai de lá sem o be-a-bá da solução de problemas6?
Se problema é conhecimento que falta e a sua eliminação vale a pena, então precisamos adquirir ou desenvolver esse conhecimento. Se esse conhecimento está à distância de uma busca no Google, num livreto de melhores práticas ou à espera de uma conversa com inteligências artificiais, é de se perguntar por que o problema ainda existe.
Nos interessam aqui as questões que justificam a nossa atenção. Ou seja, vamos tratar de problemas que exigem o desenvolvimento de novos conhecimentos.
[continua]
Do Dicionário de Filosofia do argentino Mario Bunge (Perspectiva, 2019).
Olha o Russell Ackoff aí outra vez! Ackoff’s Best (Wiley, 1999).
Como se houvesse UM e apenas UM método científico, né? Há controvérsias. E nós conversaremos sobre isso em outras oportunidades.
Se você está chegando agora e não sabe do que estou falando, por favor comece aqui.
Fui no Google buscar uma boa referência para o squiggle. Sabe como é, nada consta, família, rede de amizades… Vi que ele vira uma tatuagem nota 10 no braço. Tô brincando não.
Um livro escrito para ensinar crianças e adolescentes a lidar com problemas, Curso Básico para Resolver Problemas, de Ken Watanabe (Sextante, 2011), virou um best-seller mundial. Foi comprado por marmanjas e marmanjos tentando compensar essa lacuna em suas formações. Tende a ser mais eficaz na conversa com adultos o livro The Art of Problem Solving, de Russell Ackoff (Wiley, 1991-1978). Ackoff de novo!?