Misturei um sem número de entendimentos para fechar a lista acima. Ela não é definitiva e a terminologia pode gerar algum debate. Tentei ser fiel ao mínimo consenso que há em nossa literatura sobre sistemas e complexidade1. O que ninguém vai negar é a existência das seis lentes. Ou vai?
Interlúdio: Lentes?
Donella Meadows usou a mesma metáfora. Mas ela fala em “lente do sistema”2. Ivo Velitchkov optou por óculos3; Porque as restrições impostas pela armação são importantes. De uma forma ou de outra, estamos falando de jeitos de enxergar. A metáfora fica ainda mais instigante quando lembramos a possibilidade de sobrepor lentes. Possibilidade? Tsc, tsc… A sobreposição é uma necessidade.
Apesar da sequência ter certa lógica, não se trata, de maneira alguma, de um método de trabalho. Também não há, entre as seis lentes, uma relação hierárquica ou ordem de importância. “Perguntar” — como escreveu Donella Meadows — “quais itens são mais importantes em um sistema é fazer uma pergunta não sistêmica”4.
Fins Didáticos
Coloquei as seis lentes em um cubo. A figura é boa porque nela não há hierarquia nem ordem5.
Para entender
Há um enorme congestionamento (emergência) na principal saída para o litoral (ambiente). São milhares de veículos (estrutura) rodando a menos de 10 km/h (comportamento). Na semana anterior o congestionamento atingiu 20 km de extensão (história). O comandante da PRF acha que hoje será pior (perspectiva). Dione, no carro com a esposa e três moleques briguentos, tem certeza que a viagem será longa (outra perspectiva).
O Pensamento Sistêmico e as Ciências da Complexidade estão cheios de propostas, modelos, metodologias, métodos e ferramentas. Cada um geralmente privilegia uma ou duas lentes. A Dinâmica de Sistemas e a Modelagem Baseada em Agentes, por exemplo, tratam de COMPORTAMENTO. O VSM (Modelo do Sistema Viável), tão querido neste finito, praticamente só fala sobre ESTRUTURA e as suas trocas com o AMBIENTE. A SSM (Soft Systems Methodology) dá particular atenção às diversas PERSPECTIVAS, assim como a CSH (Critical Systems Heuristics), que também fala sobre fronteiras (AMBIENTE). Como escreveu Patrick Hoverstadt6, não deixa de ser curioso e incômodo descobrir que a lente mais negligenciada em nossa salada metodológica seja justamente a EMERGÊNCIA, aquela que enquadra7 as demais.
Em suma, não temos nada parecido com um UP (Processo Unificado)8. Precisa ser assim. Porque nunca existirá um monóculo nem uma receitinha de bolo universal quando o assunto for a tal complexidade.

Aplicação
As seis lentes formam o núcleo do qual derivei a Oficina de Sistemas e o Curso de Pensamento Sistêmico. Os dois eventos são totalmente independentes. Mas serão totalmente compatíveis e complementares se você quiser.
Assim como no velho FAN9, no FDP e em todos os cursos e aulas que desenhei, o conteúdo é original. Essas seis lentes são resultado de muitas leituras, diversos experimentos e trocas. Só há uma certeza em relação ao modelo: ele está errado. Tanto quanto todos os outros modelos10. O que se coloca em prova é a sua utilidade. Em nosso caso, se ele realmente te ajudou a Pensar em Sistemas.
Gramática
LEI DA COMPLEMENTARIDADE
“Quaisquer duas perspectivas (ou modelos) de um sistema vão revelar verdades sobre o sistema que não são nem totalmente independentes nem inteiramente compatíveis.”
Descoberta por Gerald Weinberg, a lei também é conhecida como triangulação. Trecho surrupiado da Gramática do Hoverstadt.
Saiba, não foi tarefa simples. Veja a lista dos termos que descartei ao me limitar aos mais comuns: Interconexões, Composição, Mecanismo, Relacionamentos, Inter-Relacionamentos, Trocas (exchanges), Distinções, Fronteiras, Containers, Desenvolvimento, Diferenças.
Pensando em Sistemas, Donella Meadows (Sextante, 2022 - pág. 16).
Essential Balances: Stop Looking and Start Seeing What Makes Organizations Work, Ivo Velitchkov (KVISTGAARD, 2020).
É importante citar que na mesma frase Donella lista apenas três itens: elementos, interconexões e propósitos. Pois é, nenhum termo bate com aqueles que selecionei.
Além de outras razões que explicarei oportunamente. Têm a ver com os trabalhos de Buckminster Fuller e Stafford Beer (Team Syntegrity).
The Grammar of Systems: From Order to Chaos & Back (SCiO, 2022).
O que não significa dizer que ela seja mais importante. Usei o verbo enquadrar no sentido de… ops, dar sentido, foco e fronteiras. Em inglês usa-se framing.
Amém!
O imorrível! Faz tempo que tá longe da vitrine e dos holofotes. Mas é comprado até hoje! O FAN vai completar 18 anos em 2025. Tô pensando numa edição especial comemorativa.
Jurgen Appelo pegou um atalho para desenvolver um modelo. Ele pediu para uma IA descobrir e ordenar conceitos relacionados ao Pensamento Sistêmico e à Teoria da Complexidade. Obteve uma relação com 32 itens: